Juros Futuros em Alerta: Curva de DI Pressiona Selic e Redefine Oportunidades na Renda Fixa
O fechamento da curva de juros hoje lançou um ultimato ao cenário fiscal e acendeu faróis para quem busca proteger ou potencializar ganhos na renda fixa. Descubra o que a inclinação da curva realmente sinaliza e como posicionar sua carteira diante desse novo divisor de águas.
Talvez você já tenha vivido aquele momento, na mesa de operações ou diante do home broker, em que tudo parece convergir para um só tema — e, no entanto, os sinais do mercado seguem em direções opostas. Foi exatamente essa sensação que predominou hoje na curva de juros futuros: enquanto os vértices longos disparavam, sinalizando aumento de prêmio de risco, o curto prazo chegou a recuar levemente. O DI nov/2025 encerrou em 14,90% (-8 bps), mas os vértices subsequentes sofreram forte abertura: out/2026 subiu 35 bps, out/2027 avançou 41 bps, out/2028 ganhou 30 bps e o out/2029 saltou impressionantes 53 bps. Uma fotografia que, para mim, lembra a tensão de um cabo de aço puxado de ambos os lados — e que, cedo ou tarde, pode se romper ou exigir um reajuste técnico.
O pano de fundo internacional não poupou o investidor brasileiro: a alta de 47 bps no Treasury de 10 anos, repercutindo o tom hawkish do Fed, elevou o custo de capital global e pressionou todas as economias emergentes, mas o que se viu aqui foi mais do que um mero reflexo externo. O estresse se amplificou com a deterioração do quadro fiscal doméstico: o déficit primário acima das expectativas em setembro e sinais do Congresso de maior flexibilidade nas metas fiscais fizeram o risco-país decolar, especialmente nos vencimentos longos. Curiosamente, esse ambiente de aversão ao risco não contaminou o Ibovespa, que encerrou em leve alta, uma divergência que chama atenção e sugere que o movimento foi, por ora, concentrado em renda fixa e câmbio — talvez sustentado por fatores microeconômicos ou pelo desempenho resiliente de commodities.
Do ponto de vista técnico, a inclinação da curva foi o termômetro do dia. No curto prazo, o spread entre out/2026 e nov/2025 reduziu seu patamar negativo (de -73,20bps para -67,00bps), ou seja, houve um leve steepening, sinalizando que o mercado acredita menos em cortes agressivos da Selic no horizonte imediato — mas ainda não precifica aumentos. Já no médio prazo, a diferença entre out/2027 e out/2026 praticamente não mudou (+0,50bps), mantendo a curva levemente inclinada, o que revela cautela sobre o ritmo de normalização monetária, sem apostas francas em ciclos de flexibilização acelerada. O trecho longo, por sua vez, mostrou o recado mais contundente: o spread entre out/2029 e out/2028 saltou de +8,00bps para +11,00bps. Isso evidencia que a preocupação com o risco fiscal se concentrou nos vencimentos mais distantes, elevando o prêmio exigido para financiar o Estado a longo prazo. A curva do dia desenhou, portanto, um perfil de “steepening” nos extremos, com uma barriga mais estável — um formato que costuma antecipar períodos de transição e incerteza, quando o curto prazo resiste a cortes, mas o longo prazo exige compensação extra pelo risco.
Esse desenho da curva lança luz sobre um dilema cada vez mais sensível para o Banco Central. O movimento de abertura dos juros longos, mesmo diante de um curto prazo ancorado, indica que a autoridade monetária está sendo colocada contra a parede: a deterioração fiscal pressiona as expectativas de inflação futura e pode forçar o Copom a adotar uma comunicação mais dura, mesmo com a economia real dando sinais de fraqueza. Se o ambiente fiscal não for reancorado rapidamente, poderemos ver um BC obrigado a segurar ou até reverter o ciclo de cortes, sob risco de perder a batalha das expectativas. Por outro lado, se houver uma surpresa positiva — seja por ajuste fiscal ou por um alívio externo — a magnitude do prêmio embutido sugere que as taxas poderiam ceder com força, gerando oportunidades relevantes de ganho de capital. O mercado, por ora, parece precificar um cenário em que o risco fiscal se sobrepõe à desaceleração econômica, e a curva de DI envia um aviso claro: o tempo de complacência acabou, e cada novo dado fiscal poderá redefinir o rumo do ciclo monetário.
Diante desse cenário, vejo uma oportunidade educacional interessante ancorada justamente na dinâmica da inclinação da curva (“steepening”), especialmente na parte longa. O argumento consensual do mercado — o “bear case” — é que o risco fiscal se tornou estrutural e que as taxas longas podem continuar subindo indefinidamente, penalizando os títulos prefixados e IPCA+ de prazos mais longos. Minha hipótese alternativa, no entanto, é que esse prêmio adicional já contém boa parte do pessimismo e que, se houver qualquer sinal crível de reversão fiscal ou estabilização do ambiente externo, a assimetria para quem entrar agora pode ser favorável. O potencial de ganho pela marcação a mercado, nesse caso, supera o risco de novas altas, pois o espaço para mais estresse começa a ficar limitado pelos próprios níveis das taxas.
O gatilho para essa abordagem seria a observação de um arrefecimento nas pressões fiscais, seja via discurso mais austero do governo, avanço em medidas de contenção de gastos ou mesmo dois pregões seguidos de fechamento das taxas longas (por exemplo, se o DI2029 recuar de 13,30% para patamares abaixo de 13,00%). Isso sinalizaria o início de uma reprecificação positiva dos prêmios de risco.
Na execução, o investidor pode considerar aumentar taticamente a exposição a títulos IPCA+ ou prefixados de prazo intermediário a longo (ex: 2027 a 2029), aproveitando as taxas elevadas para “travar” uma remuneração real ou nominal difícil de ver em períodos de normalização fiscal. Para quem busca mais proteção, a diversificação com Tesouro Selic segue relevante como colchão de liquidez. Já a disciplina de saída deve ser rigorosa: caso o DI2029 ultrapasse o patamar de 13,50% e o ambiente fiscal continue se deteriorando sem respostas do governo, seria o momento de reavaliar e reduzir a exposição, evitando perdas adicionais de marcação a mercado. Em síntese, a relação risco-retorno parece inclinada a favor de quem reconhece que, em momentos de extremo pessimismo, o prêmio já pode estar “gordo” o suficiente para justificar um posicionamento estratégico — desde que se mantenha a vigilância e a flexibilidade para agir diante de novos fatos.
No fim do dia, cabe aquela pergunta que sempre me fiz nos momentos de maior turbulência: será que o mercado já exagerou no pessimismo, ou ainda há espaço para mais estresse? O segredo está em não buscar respostas definitivas, mas sim em cultivar a disciplina de observar, questionar e ajustar a rota sem apego. Afinal, no xadrez dos juros, a próxima jogada raramente é óbvia — e é justamente aí que mora a chance de aprender e evoluir.
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