6 de novembro de 2025

Juros Futuros: Bear Steepening Expande Prêmio de Risco e Redefine Oportunidades na Renda Fixa

O movimento assimétrico da curva de DI escancara como a combinação de Selic imóvel e risco fiscal latente pode gerar oportunidades táticas para quem observa além do consenso. Descubra o que a nova inclinação revela sobre os caminhos possíveis da renda fixa.

No fechamento de hoje, a curva de juros futuros desenhou um quadro que, à primeira vista, pode parecer apenas mais um dia de alta. Mas, ao olhar com lupa, há sinais claros de que o mercado está recalibrando suas apostas — e, mais importante, onde se encontram ganhos assimétricos para investidores atentos. Entre os principais contratos, o DI para dez/2025 subiu 2 pontos-base, praticamente estável, enquanto os vértices intermediários e longos (out/2027 e out/2029) saltaram 30 pontos-base, consolidando um clássico bear steepening: taxas curtas ancoradas e longas abertas, num espelhamento quase didático do sentimento de aversão a riscos de longo prazo. Esse tipo de empinamento, tão familiar aos que já viveram outros ciclos de incerteza fiscal, costuma ser uma senha: há algo de estrutural sendo precificado.


O pano de fundo não poderia ser mais emblemático do Brasil: o Copom manteve a Selic em 15% e, pelo terceiro encontro consecutivo, não só afastou qualquer possibilidade concreta de corte no curto prazo, como ainda manteve no comunicado a ameaça de apertar mais a política monetária se necessário. O curioso, porém, é que não foram sinais vindos do exterior ou choques de inflação que motivaram a reprecificação hoje. O fluxo foi todo doméstico, refletindo a percepção de que o Banco Central está disposto a pagar o preço do crescimento mais lento para ancorar expectativas. Mas, e aqui está a nuance, enquanto a inflação esperada para 2025 segue em queda (4,8% para 4,55% nas últimas semanas), o prêmio de risco exigido nos vértices longos explodiu. Ou seja: não é medo do dragão inflacionário, é a incerteza sobre o futuro das contas públicas e o temor de que o “novo normal” do juro real brasileiro seja mais alto do que gostaríamos de imaginar.


Na leitura técnica, a curva de hoje entrega uma mensagem sofisticada. No trecho curto, o spread entre out/2026 e dez/2025 ficou menos negativo (de -72,80 para -69,60 bps), um steepening modesto que apenas confirma a convicção: Selic alta por mais tempo, sem espaço para cortes no radar imediato. No médio prazo, a inclinação entre out/2027 e out/2026 praticamente não se mexeu (+0,50 bps), sugerindo que o ciclo de cortes, se vier, será bem mais tarde — e, talvez, mais suave do que o mercado chegou a imaginar. Já no longo, o diferencial entre out/2029 e out/2028 abriu 2 pontos-base, consolidando o bear steepening: a curva ficou mais empinada, com a barriga longa exigindo cada vez mais prêmio para compensar o risco-Brasil. A forma do dia é um steepening clássico nos prazos longos, com vértices curtos ancorados e a “cauda” da curva empinada, refletindo o peso do risco fiscal e político. Não há sinal de inversão ou twist; o que se desenha é uma curva que pede compensação extra para quem topa carregar duration em tempos de incerteza.


Esse desenho não apenas confirma a postura vigilante do BC, mas explicita um dilema que não é novo, mas hoje ganhou contornos mais agudos: ao manter a Selic em patamar elevado e sinalizar que pode ir além, o BC busca preservar a âncora de preços, mas o prêmio de risco cresceu justamente porque a credibilidade fiscal segue em disputa. O que a curva precifica, então? Fundamentalmente, que o custo de rolar a dívida pública subiu, que o espaço para cortes só será reaberto se o risco fiscal der trégua, e que o mercado exige um juro real historicamente elevado para carregar papéis longos. Em outros momentos, uma queda nas expectativas de inflação traria alívio aos DIs longos. Hoje, esse alívio não veio — pelo contrário, a taxa real implícita subiu, deixando claro que o componente fiscal pesa mais do que nunca. Se o cenário de aperto prolongado persistir, a curva pode seguir empinada e até abrir mais; mas se (e esse “se” é crucial) houver sinalização crível de ajuste fiscal, o potencial de fechamento dos vértices longos é expressivo, favorecendo quem se posicionar com coragem e disciplina.


Quando olho para as possibilidades de alocação, é impossível não pensar em como o bear steepening abre espaço para abordagens assimétricas na renda fixa. O consenso de risco — aquele que teme “duration longa” como sinônimo de volatilidade e perda — está mais forte do que nunca. Mas, justamente por isso, a assimetria começa a se formar para quem sabe esperar. Minha tese aqui parte de um argumento simples: o prêmio de risco já embutido nos DIs longos e nos títulos IPCA+ de prazo estendido parece elevado demais frente ao recuo das expectativas de inflação. O risco de mais abertura existe, claro, mas a cada novo salto, o potencial de fechamento futuro aumenta, caso o fiscal surpreenda positivamente (e, vale lembrar, mercados gostam de antecipar viradas antes que elas cheguem nas manchetes).


O gatilho para essa tese é claro: sinais objetivos de estabilização ou reversão nas taxas longas — por exemplo, dois fechamentos consecutivos de queda nos vértices longos, ou um recuo do Tesouro IPCA+ 2029 para patamares abaixo de 8% de juro real. Até lá, a disciplina é fundamental para não ser atropelado por novas ondas de estresse. A execução prática, para quem busca assimetria, é aumentar gradualmente a exposição em títulos IPCA+ de prazos longos (2029 ou superiores), aproveitando os níveis elevados de juro real para construir posições com horizonte estratégico. Para investidores de perfil mais tático, vale olhar para a marcação a mercado: quedas futuras nas taxas podem gerar ganhos expressivos. Mas, tão importante quanto a entrada, é a proteção: um novo choque fiscal, mudança no tom do BC para ainda mais hawkish, ou uma escalada abrupta nas taxas longas (exemplo: DI out/2029 acima de 13,5% por vários pregões) são sinais para pausar, reavaliar ou até reduzir exposição. O segredo está em calibrar o risco, reconhecendo que a tempestade de hoje pode ser o solo fértil para o rally de amanhã — só que, como em toda travessia, convém manter a bússola na mão e os olhos no horizonte.


No fundo, o bear steepening de hoje me lembra de uma lição que aprendi cedo: o desconforto do consenso, quando bem interpretado, é muitas vezes o berço das oportunidades mais rentáveis. O investidor que navega pela curva de juros como quem lê sinais em alto-mar sabe que, no Brasil, paciência e disciplina são tão valiosas quanto qualquer modelo quantitativo.

Em ciclos de incerteza, o verdadeiro diferencial está em enxergar além do ruído imediato — e transformar o medo do mercado em potencial de ganho. E você, está olhando a curva ou apenas a tempestade?


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