24 de setembro de 2025

Juros Futuros e Curva DI: Correção Homogênea Realinha o Foco em Riscos Fiscais e Pressiona Estratégias de Renda Fixa

Os juros futuros voltaram a subir em bloco, sinalizando que o mercado rapidamente abandona euforias passageiras diante da realidade dos fundamentos fiscais. Entenda como essa movimentação homogênea da curva DI pode influenciar suas decisões em renda fixa.

No pregão desta quarta-feira, a fotografia dos contratos de DI foi marcada por uma alta praticamente paralela ao longo dos principais vencimentos, revertendo parte da queda observada na terça-feira. O DI para out/2025 encerrou estável, enquanto os vértices seguintes — out/2026, out/2027, out/2028 e out/2029 — avançaram 3, 26, 30 e 15 pontos-base, respectivamente. O recado foi claro: a animação recente, alimentada por avanços diplomáticos entre Brasil e EUA, rapidamente cedeu espaço à preocupação rotineira com o ajuste fiscal. O mercado, em essência, voltou a exigir prêmios de risco mais elevados em todos os prazos, sem discriminação marcante entre curto e longo prazo.


Esse movimento não nasce do nada. Lá fora, a fala de dirigentes do Fed esfriou apostas em cortes agressivos de juros nos EUA, puxando para cima os yields dos Treasuries e, por tabela, dos DIs brasileiros. Internamente, a ausência de novidades positivas e o debate persistente sobre as iniciativas de arrecadação do governo reforçaram a necessidade de prêmio — especialmente num ambiente em que dúvidas fiscais seguem rondando qualquer conversa sobre trajetória de juros. Lembro-me de uma conversa com um gestor veterano que, em momentos assim, sempre dizia: “O fiscal é como aquela goteira no telhado — você pode ignorar por um tempo, mas basta chover um pouco mais forte para ela voltar a incomodar”. Hoje, mais uma vez, a goteira fiscal pingou alto.


Do ponto de vista técnico, a curva apresentou um comportamento interessante. A inclinação de curto prazo pouco variou, com spread entre out/2025 e out/2026 passando de -61,90 para -61,40bps, um leve aumento (steepening), mas sem sinalizar mudança de narrativa para as próximas decisões do Copom. Já o trecho intermediário (out/2026 para out/2027) também teve um pequeno steepening, com o spread reduzindo sua inclinação negativa em 3bps, sugerindo que o mercado ajustou as expectativas de cortes futuros, mas sem apostar em reversão brusca do ciclo. Na ponta longa, o spread entre out/2028 e out/2029 caiu de +7 para +5bps — um flattening sutil, indicando que, apesar do aumento dos prêmios, não houve uma percepção aguda de deterioração fiscal para os vértices mais distantes. No agregado, a curva desenhou um movimento de correção paralela, sem calombos ou distorções — um “ajuste de régua” típico de dias em que o mercado apenas recalibra o preço do risco em bloco, sem pânico, mas também sem complacência.


Esse padrão de ajuste homogêneo revela mais do que aparenta sobre as tensões subjacentes entre política monetária e risco fiscal. O comportamento de hoje parece apontar para uma espécie de pacto tácito: o Banco Central mantém sua postura restritiva, mas o mercado só irá relaxar as taxas quando houver sinais concretos de compromisso fiscal. Enquanto a incerteza persistir, o prêmio de risco segue elevado — e pequenas doses de otimismo, como as vistas na terça, tendem a ser rapidamente corrigidas. Se o governo trouxer novidades críveis sobre receitas ou controle de gastos, poderíamos assistir a um fechamento mais consistente da curva. Caso contrário, até mesmo a manutenção da Selic elevada pode não ser suficiente para conter o avanço dos prêmios, principalmente nos vértices intermediários e longos.


Do ponto de vista de alocação, o cenário de hoje é um convite ao realismo estratégico. Em uma curva que sobe de forma paralela, sem distorções claras, a tática mais defensiva — e talvez mais prudente — tende a ser privilegiar títulos pós-fixados de curto prazo, como Tesouro Selic, que carregam o prêmio elevado sem exposição desnecessária à volatilidade dos vértices longos. Para investidores com perfil mais arrojado, há argumentos para avaliar posições táticas em prefixados longos, apostando em eventual fechamento da curva se (e somente se) houver avanço fiscal — mas esse movimento se assemelha a capturar peixes em águas revoltas: a oportunidade existe, mas o risco de linhas arrebentadas também. O mais relevante é entender que a curva de hoje não grita “oportunidade” em nenhum trecho específico; ela convida à cautela, à diversificação e à atenção ao noticiário fiscal. O investidor que busca proteger capital deve privilegiar liquidez e flexibilidade, monitorando os sinais do governo e do BC antes de qualquer rotação mais ousada.


No fim do dia, a curva de juros nos lembra que o mercado é menos um farol e mais um sismógrafo: reage, por vezes de forma abrupta, a qualquer tremor nos fundamentos. A lição? Em dias de ajuste paralelo, talvez o maior ativo seja a paciência — ou a arte de esperar por sinais mais nítidos antes de mudar o rumo do barco.

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