22 de outubro de 2025

Janela de Otimismo na Curva de Juros: Como a Queda dos DIs Intermediários Abre Espaço para Estratégias em Renda Fixa Prefixada

A forte queda dos juros futuros intermediários sugere uma “janela de otimismo” para renda fixa, mas a cautela nos vértices longos sinaliza que a confiança será testada pela realidade fiscal. Entenda como a dinâmica de hoje pode inspirar estratégias de alocação mais inteligentes.

Hoje, quem acompanhou o fechamento da curva de juros futuros (DI) percebeu um movimento raro: taxas caindo em bloco, mas com intensidade desigual ao longo dos vencimentos. O destaque absoluto ficou com o DI2027, que recuou 60 pontos-base, enquanto os contratos mais curtos (nov/25) permaneceram estáveis e os mais longos (out/29) caíram menos. Essa configuração não é trivial — ela revela muito mais do que um simples alívio nos prêmios: aponta para como o mercado reinterpreta riscos e oportunidades em meio a um cenário em mutação. Não posso negar que, vendo a curva “afundar” no trecho intermediário, lembrei de um velho ditado do pregão: “o otimismo sempre chega antes nos vértices do meio — mas só fica se o fiscal deixar.”


O pano de fundo externo foi decisivo: a queda acentuada dos yields dos Treasuries americanos agiu como um vento de cauda para os ativos locais. Diante de incertezas globais e da ameaça de paralisação do governo dos EUA, investidores globais buscaram refúgio nos títulos americanos, derrubando as taxas por lá e, consequentemente, aliviando a pressão sobre os DIs brasileiros. Esse “respiro” internacional foi reforçado internamente por sinalizações do Ministério da Fazenda de compromisso com a meta de déficit zero em 2025 e projeção de superávit para 2026. O resultado foi uma redução dos prêmios de risco, sobretudo nos vértices intermediários, onde o ciclo de política monetária pós-2025 começa a ser precificado com mais otimismo. Já os vértices longos, embora em queda, mantiveram algum prêmio, refletindo uma prudência residual com o cenário fiscal de longo prazo — um lembrete de que, sem confirmação efetiva das promessas, o otimismo pode ser passageiro.


A leitura técnica da curva evidencia essa “dança” dos vértices. No curto prazo, a inclinação entre 2025 e 2026 acentuou-se negativamente, ampliando o spread para -69,7 bps. Isso sugere que, mesmo com otimismo, o mercado não vê espaço para cortes adicionais da Selic no curto prazo; a âncora permanece, e o Copom segue confortável para manter sua trajetória atual. No médio prazo, a inclinação também se aprofundou no terreno negativo: o spread entre 2026 e 2027 caiu para -91 bps, um sinal de que o mercado agora antecipa uma queda mais agressiva da Selic a partir do ciclo pós-2025, embalado pelo duplo impulso de alívio externo e promessas fiscais. É aqui que se desenha a “janela de otimismo” — o trecho intermediário da curva “mergulha”, antecipando um futuro de juros mais baixos, caso o cenário benigno se confirme. Já o trecho longo apresentou leve steepening: o spread entre 2028 e 2029 subiu para +11,5 bps. Essa alta discreta, mesmo em um dia de forte apetite a risco, revela que o mercado ainda exige um prêmio extra para carregar risco fiscal estrutural. Em termos de forma, a curva do dia exibe uma “barriga” pronunciada: quedas fortes nos vértices intermediários, estabilidade no curto e cautela no longo. Essa configuração, para mim, é como uma pista de corrida com um trecho central liso e rápido — mas com curvas perigosas na entrada e na saída.


A postura do mercado hoje, ao privilegiar quedas nos juros intermediários e segurar parte do prêmio nos longos, escancarou um dilema sutil para o Banco Central. O otimismo nos vértices de 2026 e 2027 poderia ser lido como um endosso à condução atual da política monetária; afinal, a percepção de que a inflação está sob relativo controle e que o governo pode entregar disciplina fiscal no curto prazo dá ao Copom espaço para manter seu “plano de voo”. Contudo, a relutância dos vértices longos em embarcar totalmente nesse otimismo sugere que a credibilidade desse cenário ainda está em construção. Caso o ciclo de notícias positivas continue — com inflação sob controle e avanços fiscais concretos — o mercado poderá aprofundar o fechamento da curva intermediária e, gradualmente, reduzir os prêmios de risco dos vencimentos mais longos. Se, porém, houver decepções com a execução das metas fiscais ou um novo episódio de volatilidade externa, o prêmio de risco pode retornar rapidamente, especialmente nos vértices mais distantes. O comportamento quase “esquizofrênico” da curva — e a leve divergência entre juros e dólar, que subiu marginalmente mesmo com a festa na renda fixa — reforça que o mercado está, ao mesmo tempo, testando os limites do otimismo e mantendo a porta aberta para a cautela.


Como transformar esse retrato complexo em uma estratégia de renda fixa? A resposta está em ancorar a abordagem na dinâmica da inclinação, que hoje foi o verdadeiro farol para quem busca assimetria. O argumento cético — dominante até ontem — era de que o risco fiscal exigiria prêmios elevados por muito tempo, tornando arriscado comprar títulos prefixados e de duração intermediária. A tese contrária, que hoje ganhou força, é que parte desse prêmio já foi “precificado demais” e, diante do novo fluxo de notícias, o potencial de ganho com a marcação a mercado dos títulos prefixados intermediários (ex: Tesouro Prefixado ou fundos de crédito com duration de 2 a 4 anos) supera o risco de perda, caso a melhora se consolide. A assimetria está, portanto, em capturar o fechamento adicional da curva intermediária: se o DI2027, por exemplo, seguir recuando para perto de 13,00% (dos atuais 13,295%), o investidor que se antecipar pode realizar um ganho relevante, já que os preços dos títulos prefixados sobem à medida que as taxas caem.


O gatilho prático para agir está em observar o comportamento dos vértices intermediários nos próximos pregões: dois fechamentos consecutivos de queda nas taxas de 2027 e 2028, ou a manutenção dos spreads negativos acentuados, sinalizariam a persistência do movimento de “barriga”. Isso validaria o início da materialização da tese otimista. O investidor poderia, então, aumentar taticamente a exposição a títulos prefixados intermediários — sem perder de vista que essa é uma aposta de médio prazo, não uma alocação estrutural.


A disciplina de saída, por sua vez, é clara: se houver uma reversão brusca do otimismo — seja por um dado fiscal decepcionante ou por uma disparada inesperada do dólar (indicando estresse externo) —, ou se o DI2027 voltar a subir acima dos níveis da véspera, o cenário mudaria e exigiria redução das posições para proteger o capital. Em suma, a relação risco/retorno hoje favorece quem souber “correr no trecho liso” da pista, mas sem perder o respeito pelas curvas adiante.


No fim do dia, a curva de juros manda um recado duplo: há espaço para otimismo, mas ele não é incondicional. O investidor atento, que lê os sinais da inclinação e entende onde o consenso pode estar atrasado ou exagerado, transforma volatilidade em oportunidade. Afinal, navegar na renda fixa é como atravessar um rio: há trechos rasos e seguros, mas também correntes traiçoeiras — e o segredo está em saber onde pisar.

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