23 de outubro de 2025

Dólar fecha em forte queda: o que a resiliência do real diz sobre o futuro dos investimentos em um cenário de turbulência global

Um fechamento de dólar que desafia o caos externo oferece pistas estratégicas para quem busca proteger e multiplicar patrimônio em meio a forças opostas no mercado de câmbio.

O pregão desta quinta-feira trouxe não apenas um fechamento do dólar a R$ 5,3840, mas também uma lição sobre resiliência – aquela característica silenciosa que, vez ou outra, só aparece quando o mundo lá fora está em ebulição. O dólar abriu o dia em R$ 5,4029, tocou máxima em R$ 5,3965 e mínima em R$ 5,3795, encerrando com uma queda de 0,18%. Pode parecer pouco à primeira vista, mas o contexto faz toda a diferença: enquanto as moedas de exportadores de commodities se valorizavam, o real se destacou ainda mais, sustentado por um “colchão” de fatores domésticos que, hoje, serviu de escudo contra o clima tempestuoso dos mercados internacionais. Se já vivi dias em que o câmbio parecia uma gangorra descontrolada diante de choques externos, hoje a impressão foi inversa – como se o real estivesse ancorado, resistindo à correnteza.


O pano de fundo externo foi dominado pelo salto nos preços do petróleo Brent, que subiu mais de 5% após o anúncio de sanções dos EUA e da União Europeia contra as gigantes russas Rosneft e Lukoil, em resposta à escalada do conflito na Ucrânia. O mercado leu esse movimento como um risco real à oferta global de energia, impulsionando as moedas de países exportadores de commodities, como o Brasil. Dois canais transmitiram esse efeito para o câmbio local: a perspectiva de melhora nos termos de troca, com potencial aumento de entrada de dólares, e o fortalecimento da bolsa, puxada por Petrobras, atraindo capital estrangeiro para o Ibovespa. Não fosse o bastante, o sentimento global em relação ao dólar permaneceu estável, com o DXY fechando praticamente estático em 98,96 (+0,06%).

No entanto, foi o cenário interno que realmente chamou atenção. Apesar de uma disparada histórica nos yields dos Treasuries de 2 anos (+133 pontos-base), as taxas dos DIs brasileiros caíram – um descolamento raro, sugerindo que investidores viram motivos para reduzir o prêmio de risco Brasil. As expectativas de avanço em medidas de arrecadação do governo e a perspectiva de divulgação de um IPCA-15 benigno no dia seguinte ancoraram o otimismo, reforçado pelo discurso construtivo do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. O mercado, assim, pareceu comprar a ideia de que a política monetária brasileira segue vigilante e, na ausência de surpresas negativas, mantém o diferencial de juros atrativo. O resultado dessa soma foi uma apreciação do real, desafiando o fortalecimento global do dólar e o estresse na renda fixa americana.


Tecnicamente, o dólar desenhou um cenário de baixa forte em todos os prazos relevantes: diária, semanal e mensal, segundo médias móveis e indicadores como RSI e MACD. O fechamento próximo da mínima, aliado à continuidade da tendência de baixa, sugere probabilidade elevada de mais quedas no curto prazo. Mas o detalhe que realmente adiciona cor à análise foi a divergência entre a curva de juros brasileira (em queda) e a americana (em disparada). Tal descolamento entre mercados tradicionalmente correlacionados indica que o prêmio de risco local foi substancialmente reduzido, sinalizando uma confiança atípica dos investidores nos fundamentos domésticos. Divergências como essa costumam ser prenúncio de movimentos relevantes: ora antecipam inflexões, ora confirmam regimes de mercado em maturação.


Para ilustrar o momento, imagine o mercado de câmbio como um cabo de guerra: de um lado, o empuxo das turbulências internacionais e o fortalecimento do dólar no exterior; de outro, a força estabilizadora de fundamentos internos que, hoje, mostraram poder de sustentação raro. Quando um lado cede, o movimento pode ser abrupto, mas, em dias como o de hoje, o equilíbrio se mantém por conta de fatores que nem sempre são visíveis à superfície. Se esse “escudo” doméstico – juros altos, sinais de disciplina fiscal e inflação sob controle – persistir, abre-se a possibilidade de uma continuidade da apreciação do real, desde que o cenário externo não deteriore abruptamente. Já o comportamento do DXY, com estabilidade, reforça que o movimento local não foi mero reflexo do dólar global, mas sim da dinâmica brasileira. A compressão do spread entre os DIs de 2029 e 2025, típica de um bull flattening, reforça o otimismo com o longo prazo, sugerindo que o mercado começa a precificar cortes mais profundos ou duradouros da Selic, caso a inflação continue sob controle. Porém, é importante lembrar: se o contexto fiscal se agravar ou o fluxo externo reverter, o câmbio pode rapidamente perder esse suporte, voltando a oscilar em sintonia com o risco global.


Em termos de oportunidade, a divergência notável entre os mercados de juros e de câmbio oferece um ponto de partida educativo para pensar alocação tática. O consenso tradicional aponta para um risco fiscal e macro persistente no Brasil, justificando cautela com o real. No entanto, a tese alternativa ganha força quando esse argumento já parece precificado e, mais que isso, enfraquecido pelo comportamento dos ativos locais. O potencial de ganho, ao se posicionar para continuidade da apreciação do real e melhora dos ativos domésticos, pode superar o risco de reversão abrupta – especialmente porque o mercado já carrega um prêmio de risco elevado. O gatilho objetivo para agir seria a confirmação de mais um ou dois fechamentos diários abaixo da mínima do dia (R$ 5,3795), sugerindo consolidação da tendência de queda. Na prática, um investidor poderia taticamente aumentar a exposição a setores domésticos da bolsa – como consumo e bancos, que tendem a se beneficiar de um real mais forte e menor pressão inflacionária – e, para proteção, manter um hedge parcial via ativos dolarizados (ETFs como IVVB11 ou fundos cambiais), caso surja um evento inesperado ou o dólar retorne a patamares acima da máxima recente (R$ 5,3965). O ponto de reavaliação seria um fechamento acima desse nível, ou a emergência de um choque negativo no cenário fiscal doméstico. Em síntese, trata-se de buscar ganhos em um ambiente de assimetria positiva, aproveitando a confiança renovada nos fundamentos internos, mas sem descuidar da proteção diante da imprevisibilidade típica do câmbio.


No fim das contas, o pregão de hoje lembra que, no mercado de câmbio, nem sempre o barulho externo dita o compasso interno. Às vezes, é justamente nos dias de maior ruído que surgem as melhores oportunidades para quem aprende a ouvir o sinal por trás do som. E você, já parou para pensar se está olhando apenas para o que grita, ou também para o que sussurra no mercado?

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