28 de outubro de 2025

Dólar fecha em baixa firme, mas suporte persiste: por que o mercado de câmbio ainda hesita e o que isso revela para os investimentos

O movimento do dólar hoje entregou uma queda expressiva, mas revelou um limite claro: mesmo com todo o vento global favorável, a moeda não “despencou”. Entender por que esse freio existe pode ajudar você a enxergar oportunidades e riscos que a maioria ignora.

A cotação do dólar encerrou esta terça-feira (28) em R$ 5,3570, abaixo da abertura (R$ 5,3742) e da máxima do dia (R$ 5,3843), com variação de -0,18%. O movimento foi de baixa forte tanto no dia quanto nas tendências semanal e mensal, sugerindo uma pressão consistente para baixo — ao menos pelo prisma técnico. Mas há um detalhe que não pode ser subestimado: o patamar de R$ 5,35 se impôs como linha de resistência, sustentado por uma força invisível, mas poderosa, que nem todo investidor percebe à primeira vista.


O pano de fundo global pintou o cenário perfeito para o real: expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve amanhã, queda dos rendimentos dos títulos americanos e otimismo renovado com possíveis avanços nas relações entre EUA, China e Brasil. Em qualquer outro tempo, esse combo teria impulsionado uma valorização mais intensa das moedas emergentes. O índice DXY, termômetro do dólar global, recuou levemente (-0,07%), confirmando o apetite ao risco lá fora. No entanto, o real só conseguiu superar modestamente o desempenho de pares como o peso mexicano, sinalizando que havia algo de “Brasil” pesando no preço.


É aí que os fatores internos entram em cena — e mudam toda a narrativa. Apesar do ambiente externo ser uma espécie de “tapete vermelho” para o capital estrangeiro, as taxas futuras de juros dispararam no Brasil, com o DI para 2027 saltando 19 pontos-base. Esse movimento não é trivial: ele reflete a escalada do risco fiscal, alimentada por incertezas sobre o equilíbrio das contas públicas, negociações em torno de novas fontes de arrecadação e o fim da MP que ajudaria a recompor receitas. O mercado de juros, que costuma farejar problemas antes do câmbio, mandou o recado: há cautela, há prêmio de risco, e sem uma solução fiscal crível, ninguém está disposto a apostar todas as fichas no real — mesmo com o “carry trade” mais suculento do planeta.


A leitura técnica confirma o dilema do dia. Apesar da forte queda do dólar, todos os principais indicadores apontam continuidade da tendência de baixa. Mas a divergência entre o câmbio/bolsa (animados pelo exterior) e a curva de juros (estressada pelo fiscal) foi o sinal mais gritante do pregão. Essa divergência interna sugere que o recuo do dólar não foi tão livre quanto parece; ele foi, na verdade, contido por uma âncora doméstica. Quando vemos movimentos fortes em mercados correlacionados indo em direções opostas, o sinal é de que o preço do câmbio está navegando em águas turvas: pode até seguir o fluxo global, mas carrega um peso extra, que não desaparece sem uma resposta local.


Hoje, o mercado foi um verdadeiro cabo de guerra. De um lado, o otimismo global puxou o real para cima, oferecendo o cenário ideal para uma rodada de valorização. Do outro, o risco fiscal jogou todo o seu peso, segurando o dólar no suporte emblemático dos R$ 5,35. Se o ambiente externo continuar favorável, e nada de novo surgir no front fiscal, é provável que a tendência de baixa do dólar persista, ainda que de forma contida. Porém, se a percepção de risco doméstico escalar ou o Congresso falhar em entregar sinais de responsabilidade com as contas públicas, o real pode perder terreno rapidamente, descolando dos pares globais. O DXY em estabilidade reforça que o jogo está sendo jogado, majoritariamente, dentro de casa. O recado do mercado de juros é claro: a âncora fiscal está enfraquecida, e enquanto não for restabelecida, cada alívio no dólar será visto com alguma desconfiança. O pregão de hoje não foi uma ruptura, mas também não foi uma confirmação de que o pior já passou. O sistema está em equilíbrio instável, dependente de cada fio de notícia fiscal.


Diante dessa tensão entre forças globais e domésticas, a oportunidade pode estar justamente na divergência entre os mercados — um terreno fértil para quem busca assimetrias. O consenso do dia é que o risco fiscal já está precificado no dólar, mas a curva de juros abriu ainda mais, sugerindo que o câmbio pode ainda não ter incorporado todo o risco. Aqui está o raciocínio estratégico: a tese é que o mercado de juros costuma antecipar movimentos que o câmbio só precifica depois. Se a curva DI longa continua abrindo, mesmo com o dólar acomodado, há uma oportunidade de se proteger (ou até lucrar) antes que o câmbio acorde para o risco.

O gatilho para agir seria observar a persistência desse estresse na curva de juros por mais um ou dois pregões, especialmente se o dólar seguir “preso” na faixa de R$ 5,35, sem conseguir romper para baixo com convicção. Isso seria um sinal de que o prêmio de risco interno está ganhando tração.


A execução, para quem busca hedge ou quer se antecipar a uma possível reprecificação do câmbio, pode envolver aumentar a exposição a ativos dolarizados — seja por meio de ETFs internacionais, BDRs ou, para os mais táticos, contratos futuros de mini-dólar. Para quem investe em ações, pode ser o momento de revisar a exposição: exportadoras tendem a se beneficiar de dólar mais alto, enquanto setores domésticos ficam mais sensíveis ao custo do crédito e à confiança do consumidor.


A proteção vem da disciplina: se, ao contrário, o Congresso aprovar medidas fiscais críveis ou a curva de juros reverter e fechar, sinalizando alívio na percepção de risco, é hora de desmontar o hedge ou repensar a posição tática, já que o risco que motivou a proteção teria se dissipado. O ponto de stop, nesse cenário, pode ser o rompimento consistente da mínima do dia (R$ 5,3485) com fechamento abaixo desse nível e recuo dos DIs — um sinal de que a pressão fiscal arrefeceu (ainda que temporariamente).


Quando o dólar hesita nesse jogo de forças, a lição é clara: os melhores retornos muitas vezes surgem de movimentos que estavam escritos nas entrelinhas — e não nos grandes manchetes. O desafio, como sempre, é distinguir quando o silêncio do preço é promessa de calmaria ou prenúncio de tempestade. No mercado, como na vida, antecipar é menos sobre prever o futuro e mais sobre ouvir o que o presente sussurra para quem tem ouvidos atentos.

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