10 de outubro de 2025

Descolamento dos Juros Futuros: Curva DI Sinaliza Alerta de Risco Fiscal e Redefine Estratégias em Renda Fixa

A abertura acentuada da curva de juros futuros hoje expôs uma transformação silenciosa: o prêmio de risco fiscal se impôs e reordenou as expectativas, sugerindo que, em determinados momentos, a política monetária é forçada a se curvar diante de dinâmicas fiscais incontroláveis. Entenda o que a curva está gritando ao investidor atento.

O pregão desta sexta-feira trouxe um daqueles fechamentos em que a simples observação das taxas não basta: é preciso escutar o que a curva de DI está tentando dizer. A parte curta dos contratos — como o DI nov/25 e out/26 — terminou o dia praticamente estável ou até levemente em queda, enquanto o trecho intermediário e, principalmente, o longo (DI out/27, out/28, out/29) subiram com força. Só para dar a medida do movimento: o DI out/29 saltou 0,48% no dia, enquanto o DI out/28 subiu 0,34%. Já os vértices mais próximos, como o out/26, caíram 0,21%. O resultado foi uma inclinação abrupta da curva, um verdadeiro “steepening” nos trechos longos, enquanto a ponta curta permaneceu ancorada. Esse descompasso não é trivial. Ele traz um recado sutil, mas contundente: o prêmio de risco embutido nos títulos de prazo maior explodiu, refletindo uma percepção de que o futuro fiscal do país está cada vez mais nebuloso.


Talvez você já tenha escutado aquela máxima de que “os mercados enxergam longe”. Hoje, isso ficou visível na divergência escancarada entre a curva de DI e o movimento dos juros americanos, que caíram fortemente diante da busca global por segurança. Ou seja: mesmo com a referência internacional sugerindo alívio, o risco doméstico tomou conta da narrativa e atropelou qualquer vento externo de calmaria. É como se a bússola do investidor internacional tivesse apontado o Brasil como destino de incerteza — independentemente do clima lá fora. O pano de fundo, claro, foi o turbilhão fiscal: rumores de um pacote de gastos sem fonte de receita, aliados a derrotas do governo no Congresso, desencadearam uma reprecificação imediata do risco soberano brasileiro, especialmente nos vencimentos de médio e longo prazo. O mercado, ao exigir taxas mais altas nesses vértices, explicitou sua desconfiança quanto à trajetória da dívida pública — e, por consequência, à capacidade do Banco Central de manter sua estratégia de controle inflacionário sem ser capturado pelo risco fiscal.


Do ponto de vista técnico, a leitura da inclinação da curva é reveladora. No trecho curto, o spread entre DI out/26 e nov/25 ficou ainda mais negativo, sinalizando um leve flattening: a diferença aumentou -2,7bps, indicando que o mercado, por ora, não espera mudanças bruscas na política do Copom no curtíssimo prazo e que a Selic pode permanecer estável ou cair marginalmente, desde que nada de novo aconteça no front fiscal imediato. Já no médio prazo, houve um steepening relevante: a diferença entre DI out/27 e out/26 diminuiu em magnitude negativa (+5,5bps), evidenciando que o prêmio de risco começa a ser incorporado já a partir do segundo semestre de 2026 — justamente quando os ruídos sobre novas despesas públicas se intensificam. O destaque, no entanto, ficou para a ponta longa: o spread entre DI out/29 e out/28 aumentou 2bps, consolidando o steepening e mostrando que investidores exigem taxas cada vez mais altas para financiar o governo no horizonte de quatro a cinco anos. A curva do dia, portanto, assume a forma de uma “barriga” ascendente e inclinada, típica de cenários em que a dominância fiscal começa a ser precificada de modo explícito. Essa configuração reforça o alerta: trata-se de uma reprecificação de risco soberano, não de um mero ajuste tático.


A divergência brutal com a curva dos Treasuries americanos — que caíram, sugerindo busca por porto seguro — é o fio condutor que costura toda a leitura do pregão. Ao se descolar da referência global, a curva DI revelou que os fatores domésticos simplesmente atropelaram o ambiente internacional, tornando o Brasil um caso à parte aos olhos do investidor estrangeiro e local. O prêmio de risco-país, que normalmente oscila junto com o apetite global por risco, hoje foi ditado quase que exclusivamente pelo temor fiscal. Quando a maré externa é favorável e, ainda assim, a curva local abre, o sinal é de alerta vermelho.


Esse comportamento extremo da curva cria uma tensão evidente entre política monetária e risco fiscal. O curto prazo parece, paradoxalmente, estável — como se o Banco Central ainda tivesse o benefício da dúvida para manter a Selic parada ou até cogitar cortes residuais. No entanto, o estresse crescente nos vértices longos sugere que, se o ambiente fiscal não for rapidamente endereçado, o espaço para flexibilização monetária simplesmente desaparece. O mercado passou a precificar não apenas a inflação corrente, mas, sobretudo, a dúvida sobre a capacidade do país de honrar seus compromissos sem recorrer a juros persistentemente elevados. Em outras palavras, se o cenário de “pacote de bondades” se materializar sem contrapartidas de receita, poderemos ver a curva longa abrir ainda mais, tornando quase impossível ao BC entregar cortes substanciais na Selic. Por outro lado, a eventual aprovação de medidas robustas de ajuste fiscal poderia provocar uma reprecificação positiva — mas, diante do clima político, essa janela parece cada vez mais distante. O investidor atento percebe que, nesse ambiente, o prêmio de risco não é apenas uma questão de preço, mas de credibilidade institucional.


Quando o mercado embarca nesse “voo cego” de prêmio fiscal, as estratégias de alocação precisam ser repensadas. Hoje, vejo que a oportunidade está em ancorar a abordagem justamente na divergência entre mercados — afinal, a assimetria entre a curva local (abertura) e os Treasuries (queda) pode abrir espaço para movimentos táticos relevantes. A Tese estratégica é que, enquanto persistir essa desconexão, o prêmio de risco nos títulos públicos longos tende a se manter elevado, tornando o Tesouro IPCA+ com vencimentos distantes potencialmente atraente para quem busca prêmios reais robustos — desde que o investidor esteja disposto a suportar a volatilidade do mark-to-market no curto prazo. O Gatilho para entrar nessa posição seria a manutenção do spread DI out/29 versus DI out/28 acima de 12bps por alguns pregões consecutivos, indicando que o prêmio não foi apenas um soluço pontual, mas um novo patamar de risco fiscal. Por outro lado, a Proteção deve ser pensada como resposta ágil a qualquer sinal de reversão fiscal concreta: aprovação de medidas fiscais robustas, queda relevante nos spreads longos ou até mesmo um discurso contundente de autoridades monetárias capazes de restaurar a confiança. Nesses casos, a realocação para títulos prefixados de médio prazo, que capturam rapidamente a melhora do prêmio de risco, pode ser o caminho para preservar capital e capturar o upside de uma normalização da curva.


Hoje, a curva de DI serviu como um verdadeiro sismógrafo do risco fiscal brasileiro, desenhando um cenário em que o investidor precisa estar tão atento aos movimentos de Brasília quanto às decisões do Copom. Em jornadas como esta, costumo lembrar de uma lição do tempo de tesouraria: nos momentos em que o mercado ignora o contexto global e se fixa nos riscos internos, o segredo não está em prever o futuro, mas em construir margens de segurança para atravessar a neblina — afinal, nem toda curva é um caminho já traçado, e muitas vezes ela apenas sugere onde os buracos podem estar escondidos.

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