15 de setembro de 2025

Queda dos Juros Futuros DI Revela Otimismo Cauteloso com Cortes na Selic: Oportunidades e Riscos para Renda Fixa

A curva de juros caiu em bloco, refletindo o alívio externo e a fraqueza econômica local, mas a aproximação do Copom mantém o cenário carregado de nuances e possíveis reviravoltas. Entenda o que o mercado está sinalizando — e como transformar incerteza em estratégia para sua carteira.

O fechamento de hoje dos principais contratos futuros de DI marcou uma sessão de movimentos intensos e, ao mesmo tempo, reveladores: vencimentos de 2026 em diante registraram quedas significativas nas taxas (com destaque para recuos de 0,25% a 0,38% entre 2026 e 2029), enquanto o vértice mais curto (out/2025) ficou praticamente estável, com leve alta de 0,01%. O pano de fundo foi um ambiente de expectativas renovadas em relação ao início do ciclo de cortes da Selic, que ganhou força após a divulgação de um IBC-Br negativo — o terceiro mês consecutivo de retração na atividade econômica. Ao mesmo tempo, o mercado pareceu menos sensível ao Boletim Focus, que trouxe apenas um ajuste marginal na projeção de inflação para 2025, mantendo a expectativa da taxa Selic em 15% para o fim do ano.


Se eu pudesse resumir o dia em uma imagem mental, seria a de um corredor de maratona que, após meses de ritmo puxado para conter a inflação, finalmente avista uma ladeira descendente: as pernas pesam menos, o fôlego parece renovar, mas ele sabe que ainda faltam obstáculos e que basta uma pedra no caminho — como um Copom mais duro — para o ritmo desacelerar outra vez.

O movimento de queda nas taxas foi amplificado por fatores externos: os rendimentos dos Treasuries americanos recuaram, impulsionados por expectativas de corte de juros nos EUA, o que aliviou a pressão sobre os mercados emergentes. A folga internacional abriu espaço para que a curva local cedesse sem sacrificar o diferencial de juros necessário para manter o capital estrangeiro por aqui. No plano doméstico, o dado fraco de atividade pesou mais que as projeções do Focus, sugerindo que o mercado está calibrando suas apostas com base no presente — e não apenas nas expectativas futuras.


A leitura técnica do dia revela nuances importantes. No trecho curto da curva (out/2025 x out/2026), houve um steepening: o spread ficou mais negativo, ampliando-se em 3,7 pontos-base, o que indica que o mercado está antecipando cortes de juros mais próximos, à medida que a fraqueza da economia se impõe. No médio prazo (out/2026 x out/2027), a inclinação praticamente se manteve, com leve redução da diferença negativa, sugerindo que o mercado vê um ciclo de afrouxamento contínuo, mas sem pressa para acelerar o ritmo após o início. Já no trecho longo (out/2028 x out/2029), a estabilidade do spread (+8bps) revela que, apesar do alívio momentâneo, a precificação dos riscos estruturais — como o fiscal e a inflação de longo prazo — permanece elevada e inalterada. A curva do dia assume, assim, uma configuração de "barriga" pronunciada: queda acentuada nos vértices intermediários, mas com a ponta longa resistente, sinal claro de que o mercado aposta em cortes no curto/médio prazo, mas mantém cautela quanto à ancoragem das expectativas para além do horizonte imediato.


O movimento de hoje colocou o Banco Central em uma posição delicada, quase como um árbitro diante de uma torcida dividida: a queda dos juros futuros intermediários ensaia um início antecipado de flexibilização monetária, mas a resiliência dos prêmios longos aponta para a desconfiança persistente sobre a capacidade de a política monetária manter a inflação sob controle no médio e longo prazo. Se o Copom, na quarta-feira, trouxer uma sinalização mais dura, alertando para os riscos de desancoragem das expectativas inflacionárias, é provável que vejamos parte desse movimento revertido, especialmente nos prazos curtos e intermediários. Por outro lado, se o tom for mais suave, sugerindo algum espaço para cortes ainda em 2025, a curva pode se normalizar ainda mais, comprimindo os prêmios. O mercado, portanto, está calibrando sua precificação em tempo real, atento aos dados de atividade, mas sem perder de vista o pano de fundo fiscal e o risco de reversão de expectativas caso haja qualquer surpresa no discurso do BC.


Diante desse cenário de "barriga" na curva — com quedas mais fortes nos vencimentos de 2026 a 2029, mas cautela no extremo longo —, vejo espaço para abordagens táticas que aproveitem a assimetria desse movimento. Para o investidor de perfil mais conservador, títulos pós-fixados de curto prazo (Tesouro Selic) ainda oferecem boa proteção enquanto o ciclo de cortes não se confirma; para quem tolera um pouco mais de risco, prefixados intermediários ou NTN-Fs de 2026/2027 podem capturar ganhos de capital relevantes se o início dos cortes for antecipado, como parece ser o cenário-base do mercado hoje. Já a ponta longa da curva, que permanece resistente, sugere que o prêmio de risco ainda está embutido — e que cautela é essencial para quem busca duration mais alta, especialmente em um ambiente de incerteza fiscal. Em momentos como esse, aprender a ler os "sinais não-óbvios" da curva é como decifrar um sutil código Morse do mercado: às vezes, o silêncio diz mais do que o ruído. A verdadeira arte está em saber quando agir — e, principalmente, quando esperar.


Se tem algo que aprendi ao longo dos anos é que o mercado de juros é mestre em testar convicções. Uma curva que aponta para um caminho pode, de repente, se curvar em outra direção. Por isso, mais do que buscar respostas, vale a pena cultivar boas perguntas: o que a curva não está me dizendo? O que o próximo dado pode virar? No fim das contas, investir é menos sobre prever o futuro e mais sobre construir resiliência para atravessar paisagens em constante transformação.

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