13 de outubro de 2025

Juros Futuros Ignoram Otimismo e Curva DI Expõe o Alarme Fiscal: O Que o Mercado Está Sinalizando Para a Renda Fixa?

Mesmo diante de um dia marcado por alívio externo e otimismo nos mercados locais, a curva de juros futuros resiste à euforia e mantém o prêmio de risco fiscal elevado. Descubra por que esse descompasso pode ser o sinal mais importante para quem investe em DI, Tesouro e renda fixa no Brasil.

Quando tudo parece caminhar para um cenário mais leve — dólar em baixa, bolsa em alta, inflação projetada recuando e até o notório presidente americano adotando um tom conciliador — o investidor de renda fixa se depara com uma velha conhecida: a teimosia da curva de juros DI. Hoje, enquanto o Ibovespa subiu 0,78% e o dólar caiu 0,70%, os principais contratos futuros de DI não embarcaram na onda de otimismo. O contrato de nov/2025 encerrou praticamente estável (-0,01%), mas as taxas de out/2026, out/2027 e out/2028 subiram (+0,14%, +0,15% e +0,11%, respectivamente), e até o DI out/2029 fechou em leve alta (+0,04%). A mensagem por trás desse comportamento é clara: o risco fiscal segue no comando da narrativa, abafando qualquer esperança de alívio sustentado na renda fixa. Em dias como hoje, lembro de uma frase de um gestor experiente: “O mercado de juros não sorri fácil, ele exige provas, não promessas”. Essa lição nunca perde a validade.


A dinâmica do pregão foi moldada por dois grandes vetores: o apetite global por risco, alimentado por um respiro nas tensões EUA-China, e a redução da projeção de inflação no Boletim Focus. Ambos, em tese, abririam espaço para queda nas taxas. Porém, o efeito prático foi limitado — e, em alguns vértices, revertido — pela sombra persistente do risco fiscal brasileiro. A ausência dos Treasuries americanos, fechados pelo feriado, reduziu o volume e entregou o controle do pregão a fluxos mais técnicos. No pano de fundo, a percepção de que o governo brasileiro ainda patina para apresentar soluções confiáveis para o orçamento de 2026 e além manteve as taxas pressionadas. Ou seja, mesmo com o câmbio ajudando, a curva de DI se recusou a embarcar na festa, refletindo a dúvida sobre a capacidade do país de entregar responsabilidade fiscal no médio e longo prazo.


Olhando tecnicamente para a curva, o spread entre o DI nov/2025 e out/2026 encurtou levemente (-60,60bps, variação de +2,20bps), sugerindo um pequeno “steepening” no curto prazo. Isso indica que, embora haja alguma expectativa de cortes adicionais da Selic, a convicção para um ciclo mais agressivo perdeu força. No trecho intermediário, o spread entre out/2026 e out/2027 permaneceu estável (-73,50bps), mostrando que o mercado não enxergou novos motivos para mudar sua visão sobre o ritmo dos cortes à frente — a cautela continua predominando. Já na ponta longa, o spread entre out/2028 e out/2029 caiu ligeiramente (+11,00bps, variação de -1,00bps), sinalizando que, mesmo com toda a preocupação fiscal, o prêmio de risco nos vértices mais longos atingiu um platô, pelo menos por ora. A curva do dia se desenhou em um formato levemente “chato”, com inclinações modestas e pouca diferença entre os vértices médios e longos. Esse padrão reforça a impressão de que o mercado está em compasso de espera, exigindo prêmios elevados para carregar risco, mas sem acreditar na deterioração acelerada do cenário — ao menos até que novos fatos surjam.


Esse desenho da curva traz à tona uma tensão pouco confortável entre a política monetária e a confiança fiscal. O Banco Central, mesmo atuando de forma restritiva, encontra seu poder limitado diante de um mercado que cobra caro para financiar o Tesouro. A mensagem implícita é que, sem avanços críveis na trajetória das contas públicas, não há espaço real para uma queda sustentada dos juros. O mercado parece precificar uma Selic mais alta por mais tempo, com cortes adicionais acontecendo apenas se (e quando) houver sinalizações concretas de melhora fiscal. Caso o cenário externo continue colaborando, poderíamos ver algum alívio tático nas taxas curtas, mas, se a incerteza doméstica persistir ou se agravarem as dúvidas sobre o orçamento de 2026, os vértices intermediários e longos podem voltar a subir rapidamente, pressionando ainda mais o custo da dívida pública. Por outro lado, uma surpresa positiva — como a aprovação de medidas robustas de ajuste fiscal — teria potencial de catalisar uma reprecificação favorável dos DIs longos, mas, no ambiente atual, essa hipótese parece mais remota.


Diante desse cenário, o investidor atento pode enxergar uma oportunidade assimétrica ancorada justamente na divergência entre os mercados de juros e os demais ativos de risco. A tese principal é: o prêmio de risco fiscal embutido na curva intermediária e longa está elevado, mas, em um cenário onde o fiscal não piora (e o externo segue colaborando), esses vértices podem oferecer ganhos relevantes via marcação a mercado. O gatilho para materializar essa tese seria a estabilização do noticiário fiscal — ou mesmo uma sinalização inicial de avanço em medidas de ajuste —, acompanhada de manutenção do apetite global por risco. Para executar essa estratégia, o investidor poderia aumentar gradualmente a exposição a títulos prefixados ou Tesouro IPCA+ com vencimentos entre 2027 e 2029, aproveitando as taxas ainda elevadas. O horizonte aqui é tático, de semanas a poucos meses, pois a assimetria está em capturar o fechamento dos spreads caso o risco fiscal não se agrave. A disciplina de saída, por sua vez, deve ser rigorosa: se os spreads de risco voltarem a abrir (por exemplo, se o DI 2029 ultrapassar 13,70% ou se o noticiário fiscal deteriorar novamente), é hora de reavaliar a posição e, se necessário, realizar lucros ou limitar perdas. Em termos de risco/retorno, a estratégia busca capturar um potencial de ganho de 2% a 4% em marcação a mercado, com risco de queda controlado se a disciplina de stop for respeitada.


No fundo, a curva de juros hoje lembrou que, em renda fixa, o que parece fácil raramente é simples. Em vez de buscar atalhos, talvez o investidor deva se perguntar: estou preparado para navegar com cautela, esperando que as provas concretas venham antes das promessas? Afinal, em mercados nervosos, a paciência e a atenção aos sinais dissonantes costumam ser os melhores aliados de quem quer proteger — e multiplicar — seu patrimônio.

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