20 de outubro de 2025

Juros Futuros e Curva DI: Sinal de Confiança Longa Eleva Oportunidade em Renda Fixa Prefixada

O movimento de hoje na curva de juros futuros sugere um momento raro: o mercado parece começar a precificar, ainda que timidamente, um futuro mais benigno para inflação e risco fiscal. Entenda como isso pode impactar suas escolhas em renda fixa e por que a assimetria desta janela é estratégica para quem busca antecipar tendências.

O pregão desta segunda-feira trouxe uma reviravolta digna de nota para quem acompanha a renda fixa: as taxas dos contratos de DI fecharam em forte baixa nos vértices médios e longos, enquanto os curtos ficaram praticamente estáveis. O DI nov/2025 encerrou com taxa de 14,908% (+0,02%), o out/2026 caiu para 14,265% (-0,32%), o out/2027 recuou para 13,395% (-0,60%), o out/2028 mergulhou para 13,22% (-0,91%) e o out/2029 fechou em 13,335% (-0,79%). A direção do movimento foi clara: quanto mais distante o vencimento, maior a queda, refletindo um achatamento expressivo da curva. O dado bruto já chama atenção, mas o detalhe está no pano de fundo: pela primeira vez em semanas, o mercado pareceu “comprar” a tese de ancoragem inflacionária e fiscal no longo prazo. Às vezes, o mercado se comporta como aquele aluno desconfiado, que só acredita na prova depois de gabaritar duas vezes seguidas; hoje, parte dele parece ter começado a aceitar a possibilidade de um futuro mais controlado.


Por trás desse cenário, pesou forte o otimismo global. O noticiário internacional trouxe uma combinação rara de fatores positivos: conversas entre EUA e China que acenam para uma distensão comercial e sinais de resolução do impasse fiscal nos EUA. Esses vetores alimentaram o apetite global por risco e derrubaram os yields dos Treasuries americanos — o 10 anos caiu 72 bps e o 2 anos, 14 bps. Esse movimento serviu como uma espécie de “âncora externa”, pressionando para baixo todas as curvas emergentes, inclusive a brasileira. No entanto, foi o gatilho interno que realmente acelerou o movimento: o Boletim Focus revelou uma redução consistente nas projeções de inflação não só para 2025, mas também para 2026, 2027 e 2028. Isso é particularmente relevante, pois as taxas longas embutem prêmios para incertezas fiscais e inflacionárias futuras — e hoje esse prêmio foi retirado rapidamente, como se o mercado tivesse decidido recalibrar suas apostas de risco-país.


Tecnicamente, o grande destaque está na inclinação da curva. No trecho curto (DI out/2026 vs. nov/2025), o spread ficou ainda mais negativo, passando de -59,50 bps para -64,30 bps, sinalizando um leve achatamento adicional. Isso indica que o mercado mantém a projeção de Selic estável no curto prazo, sem antecipar cortes abruptos já em 2025. No médio prazo (out/2027 vs. out/2026), a inclinação também se acentuou negativamente, de -83,50 bps para -87,00 bps, sugerindo que o ciclo de queda da Selic está cada vez mais precificado para acontecer só depois — e de forma gradual, não abrupta. Já no longo prazo (out/2029 vs. out/2028), houve um leve aumento do spread (+1,50 bps), num contexto em que ambos os vértices caíram forte — o que, em vez de indicar estresse, sugere que o prêmio de risco estrutural foi comprimido, mas ainda não eliminado. A curva como um todo, portanto, apresenta hoje uma configuração de “flattening” acentuado nos médios e longos, mas sem inversões ou distorções bruscas: uma curva chata, porém saudável, que reflete o início de uma reancoragem de expectativas.


Um aspecto secundário, mas nada trivial, foi a divergência positiva entre o Brasil e outros mercados emergentes. Não só acompanhamos a queda dos Treasuries, mas a amplificamos — enquanto a curva americana achatou 58 bps, a brasileira achatou 81 bps no trecho DI29-DI25. O real também se valorizou, mesmo diante de um dólar global mais forte. Essa performance superior sugere que, ao menos por hoje, o mercado local capturou de forma quase exuberante o bom humor externo, potencializando o movimento de compressão do prêmio de risco-país.


Neste contexto, o movimento da curva de hoje cria um novo desafio para o Banco Central. A manutenção das taxas curtas, diante do forte fechamento dos vértices longos, revela uma tensão interessante: o mercado aceita que a política monetária segue rígida e que a Selic permanecerá elevada até pelo menos o fim de 2025, mas começa a precificar com mais convicção um cenário de desinflação estrutural e menor risco fiscal à frente. Em outras palavras, o BC ganha uma espécie de “alívio prospectivo” na ponta longa da curva, mas o curto prazo segue ancorado na cautela. Se as próximas semanas confirmarem o recuo das expectativas inflacionárias sem surpresas fiscais negativas, poderíamos ver um aprofundamento desse flattening — e, nesse caso, a atratividade dos títulos prefixados longos tende a aumentar. Por outro lado, basta um novo ruído fiscal ou inflacionário para reverter parte desse movimento, reabrindo prêmios rapidamente. O jogo, portanto, está longe de ser ganho, mas o movimento de hoje é um sinal de que o pêndulo pode estar voltando para o centro.


Pensando em alocação, o cenário atual oferece uma oportunidade didática para ilustrar a assimetria da renda fixa prefixada de longo prazo, ancorando a análise na dinâmica da inclinação (“flattening”) observada hoje. O argumento contrário a essa tese, bastante disseminado até a semana passada, era o temor de que o prêmio de risco embutido nos vértices longos ainda não era suficiente para compensar os riscos fiscais e inflacionários do Brasil. No entanto, o movimento de compressão visto hoje sugere que esse temor foi, ao menos parcialmente, precificado e começa a perder tração — afinal, se o consenso fosse de deterioração contínua, dificilmente veríamos um fechamento tão intenso das taxas longas.


A assimetria, portanto, está no potencial de ganho com a marcação a mercado dos títulos prefixados longos caso a tese de desinflação estrutural se confirme. O investidor que se posiciona agora em um Tesouro Prefixado 2029, por exemplo, “trava” uma taxa de 13,335% a.a., que já incorpora boa parte do pessimismo fiscal. Se as expectativas de inflação continuarem melhorando — ou ao menos não piorarem —, e a curva seguir achatando, esse título tende a se valorizar significativamente. O gatilho objetivo para essa tese seria a observação de dois fechamentos consecutivos de queda nas taxas longas, reforçando a percepção de que o movimento de hoje não foi apenas um soluço pontual, mas o início de um ciclo de reancoragem de expectativas. A execução prática envolve aumentar gradualmente a exposição a títulos prefixados de longo prazo, privilegiando a diversificação de duration para capturar tanto o fechamento da curva quanto possíveis oscilações futuras. Já a proteção, ou disciplina de saída, deve ser baseada em um eventual repique das taxas longas — por exemplo, se o DI out/2029 voltar a superar o nível de 13,60% nas próximas sessões, sinalizando uma reversão do fluxo positivo, ou ainda caso surja um choque inflacionário/fiscal relevante que anule a tese de fechamento da curva. Em essência, trata-se de buscar o ganho na normalização do prêmio de risco, onde o potencial de valorização supera, conceitualmente, o risco de um novo estresse, dada a forte precificação negativa já embutida nos preços atuais. O horizonte dessa abordagem é estratégico: meses, não dias.


No fim das contas, o pregão de hoje deixa uma lição intrigante: quando o mercado começa a precificar o improvável, é aí que mora a janela assimétrica. Será que estamos diante de uma nova narrativa para a renda fixa brasileira, ou apenas de um suspiro em meio à incerteza? Como em toda travessia, navegar é preciso — mas pensar com autonomia é indispensável.

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