17 de outubro de 2025

Juros Futuros e a Batalha do Prêmio de Risco: Como a Curva DI Sinaliza Oportunidade na Renda Fixa com Fiscal no Radar

Hoje, a curva de juros mostrou resiliência diante do choque global, mas lembrou: o risco fiscal segue à espreita, exigindo estratégia e disciplina de quem busca capturar assimetrias na renda fixa.

Poucas vezes o mercado de juros entrega uma mensagem tão clara de que, mesmo em dias de alívio, a cautela ainda é protagonista. O fechamento de hoje nos principais contratos DI foi um convite à reflexão: DI2027 caiu expressivos 19 pontos-base (13,475%), DI2029 cedeu apenas 4 pontos (13,44%) e DI2025 permaneceu estável (14,905%). A curva se achatou, um “bull flattening” clássico, mas com um detalhe fundamental — o trecho intermediário liderou a queda, enquanto o longo resistiu. O investidor atento percebe aqui um recado duplo: existe apetite tático por prêmio nos vértices intermediários, mas o receio de riscos estruturais, principalmente fiscais, continua travando uma melhora mais robusta adiante. Lembro de situações parecidas em outros pregões: o mercado parece abrir uma janela para capturar prêmio, mas mantém a trava de segurança puxada — porque, no Brasil, o risco fiscal nunca dorme.


O pano de fundo do dia foi todo externo. A distensão na guerra comercial, com sinais de diálogo entre Trump e Xi Jinping, reduziu a aversão ao risco global e impulsionou moedas emergentes e a bolsa brasileira. Esse otimismo externo foi o principal combustível para a queda nos juros intermediários, já que, internamente, o noticiário foi quase nulo. Porém, em contraste absoluto, os rendimentos dos Treasuries americanos dispararam em meio a preocupações com a saúde dos bancos regionais nos EUA, elevando o prêmio de risco global. No Brasil, esse choque se manifestou com intensidade apenas na parte longa da curva, que passou boa parte do dia pressionada. O resultado foi um verdadeiro cabo de guerra: enquanto o otimismo com a China empurrava as taxas para baixo, o estresse americano funcionava como uma âncora na ponta longa, inibindo quedas mais pronunciadas.


Na leitura técnica, o detalhe está nos spreads. O curto prazo (DI2026-DI2025) teve leve aumento de inclinação (+1 bp), sugerindo que o mercado não está antecipando cortes imediatos na Selic, mas tampouco vê espaço para altas. Já o trecho intermediário (DI2027-DI2026) aprofundou o achatamento (-3,5 bps), indicando forte expectativa de flexibilização monetária ao longo do ciclo, amparada por um cenário internacional mais favorável. O longo prazo (DI2029-DI2028), por sua vez, também achatou (-1 bp), mas com intensidade muito menor, refletindo que o prêmio de risco fiscal e externo ainda está precificado — e de forma teimosa. A curva do dia desenha, assim, um bull flattening com ancoragem longa: o apetite tático por duration intermediária cresce, mas a confiança estrutural, especialmente olhando o fiscal, segue limitada. A divergência gritante entre a curva DI e o pânico que tomou conta dos Treasuries só reforça esse ponto: o prêmio local já era tão elevado que, diante de qualquer trégua global, a renda fixa brasileira tende a reagir rápido. Mas o mercado não se ilude — o topo da curva segue vigiando Brasília e Washington.


Essa forma de curva escancara a tensão permanente entre política monetária e risco fiscal. A melhora externa permitiu ao mercado antecipar cortes futuros, mas a hesitação na ponta longa diz muito sobre a desconfiança estrutural com a trajetória das contas públicas. Se a distensão comercial evoluir e o estresse americano der trégua, é provável que a curva intermediária siga fechando — e, numa segunda onda, até o longo prazo poderia acompanhar. Por outro lado, basta um novo susto no front fiscal, seja por notícias de deterioração do orçamento ou dificuldades políticas, para que a parte longa da curva volte a abrir, anulando rapidamente parte dos ganhos táticos. O que o mercado precificou hoje é uma melhora condicional: o prêmio intermediário pode ser capturado, mas o fiscal é o fiel da balança.


Diante desse cenário, vejo uma assimetria educacional interessante para quem busca oportunidades em renda fixa, sempre com disciplina e olho no risco. A tese do dia está ancorada na dinâmica da inclinação: o prêmio dos títulos de médio prazo, como Tesouro Prefixado 2027 ou IPCA+ 2029, ainda oferece potencial relevante, pois parte desse prêmio reflete um excesso de cautela diante do cenário global — não só o risco fiscal. Se o ambiente externo continuar melhorando e, principalmente, se a inclinação longa (DI2029-DI2028) começar a fechar de forma consistente, esse prêmio pode se dissipar rapidamente, gerando ganhos de 3% a 5% na marcação a mercado. O gatilho para agir seria a manutenção desse apetite por risco nos próximos pregões, observando o DI2027 abaixo de 13,50% e a inclinação longa sem sinais de reabertura. A execução prática envolve aumentar taticamente a exposição em títulos de duration intermediária, preferencialmente prefixados ou atrelados à inflação, mas sempre mantendo uma parcela relevante em pós-fixados ou IPCA+ curtos como proteção. A disciplina de saída é clara: se a inclinação longa voltar a abrir, ou se houver uma disparada dos Treasuries combinada com deterioração fiscal, a tese perde força, sendo prudente realizar parte dos ganhos ou readequar a carteira.


No fim das contas, operar a curva de juros no Brasil é um pouco como atravessar uma ponte de corda: há quem olhe só para o início, quem só enxergue o abismo, e quem, com disciplina, aproveite o balanço para avançar, atento aos sinais — e pronto para recuar se o vento mudar. O verdadeiro prêmio está em saber que, no mercado, a travessia nunca é uma linha reta, e a autonomia nasce do pensamento crítico diante de cada novo cenário.

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