3 de setembro de 2025

Juros Futuros (DI) hoje: curva alonga o alívio, mas prudência com Selic e fiscal limita o fôlego

Entenda como a “descompressão” externa afrouxou os prêmios nos vértices longos, enquanto a ponta curta permaneceu ancorada pela leitura de manutenção da Selic. Extraia implicações práticas para sua renda fixa.

O pregão fechou com estabilidade nos vencimentos curtos e queda moderada nas taxas intermediárias e longas. O DI out/2025 terminou estável em 14,91%. O out/2026 recuou 4 bps para 14,27%, o out/2027 caiu 4 bps para 13,47%, o out/2028 cedeu 8 bps para 13,32%, e o out/2029 encerrou praticamente estável em 13,45%. Em termos de estrutura, prevaleceu um leve alívio concentrado na “barriga” e no início do longo, compatível com um dia em que o vento lá fora soprou a favor, mas não o suficiente para destravar, de uma vez, a percepção de risco local. Eu costumo dizer que esses pregões são didáticos: quando a maré global baixa 6 bps nos Treasuries e, mesmo assim, a ponta curta do DI não anda, a mensagem é que o mercado continua pedindo evidência doméstica antes de reprecificar o Copom.


O pano de fundo combinou dois vetores. Externamente, dados mais fracos do mercado de trabalho nos EUA derrubaram os yields dos Treasuries, com a T-note de 10 anos recuando cerca de 6 bps, o que contribuiu para reduzir prêmios de risco nos vértices longos brasileiros. Internamente, prevaleceu um cabo de guerra: o alívio global puxou as taxas para baixo, mas a cautela com ruídos políticos e o leilão do Tesouro mantiveram postura defensiva, notadamente nos curtos e na “barriga”. O resultado líquido foi um dia em que o externo prevaleceu marginalmente no longo, enquanto a precificação de manutenção da Selic nas próximas reuniões ancorou a ponta curta.

Na leitura técnica da inclinação, o trecho curto (out/2026 vs. out/2025) ficou ainda mais invertido: o spread foi a -63,7 bps, 0,5 bp mais negativo. É um flattening marginal que sugere continuação da precificação de Selic estável no horizonte imediato, com o contrato de 2 anos carregando algum prêmio, mas não suficiente para sinalizar cortes iminentes. No médio prazo (out/2027 vs. out/2026), a inclinação não se moveu: spread permaneceu em -80 bps. Essa estabilidade indica que as expectativas sobre o ritmo e a extensão do ciclo à frente não ganharam nova informação doméstica; o alívio externo foi absorvido de maneira quase uniforme entre esses vértices. Já no longo (out/2029 vs. out/2028), o spread abriu de +12,5 bps para +13,5 bps, apontando um leve steepening. Essa abertura relativa no final da curva, apesar da queda em out/2028, conversa com a persistência de prêmios de risco estruturais — em especial, a dimensão fiscal — que evitam uma queda mais sincronizada do rabo da curva. Em forma agregada, a curva segue predominantemente invertida do curto ao médio, com uma nuance de “twist” suave: estabilidade no curtíssimo, queda na barriga e uma inclinação um pouco mais positiva na cauda. Esse desenho sinaliza que o mercado aceita algum alívio no prêmio de prazo, mas não “compra” ainda uma normalização plena de longo.


A tensão entre política monetária restritiva e incerteza fiscal ficou espelhada na divergência entre a ponta curta estável e o alívio parcial no longo. A leitura combinada da inclinação sugere que a curva precifica probabilidade majoritária de Selic mantida no curto prazo, com um trilho de juros nominais ainda elevados por mais tempo. Se a tração externa de yields mais baixos nos EUA persistir, poderíamos ver nova compressão seletiva na barriga e, eventualmente, uma extensão do alívio no longo — desde que o noticiário fiscal doméstico não reancore prêmios. Caso a cautela política e o fluxo do Tesouro sigam pesando, a cauda pode continuar exigindo remuneração adicional, mantendo a curva com inversão no miolo e um leve empinamento na extremidade. Em um cenário de confirmação de arrefecimento global e sinais locais de disciplina fiscal, a curva poderia migrar para um flattening mais amplo; já se houver frustração fiscal, a parte longa é a que mais provavelmente reabriria.


Do ponto de vista de alocação, vale traduzir a forma do movimento de hoje em ações concretas. Como vimos um “twist” leve — estabilidade no curto, compressão na barriga e um toquezinho de empinamento no final — três abordagens gerais podem ser consideradas, cada uma ancorada em um trecho da curva. Primeiro, para quem prioriza previsibilidade de retorno enquanto a manutenção da Selic segue no preço, o carrego dos pós-fixados de curtíssimo prazo (ex.: equivalentes ao Tesouro Selic) pode continuar eficiente: a estabilidade do trecho curto reforça que o custo de oportunidade nominal permanece alto, e o risco de marcação a mercado é reduzido. Segundo, para o investidor que aceita alguma volatilidade em busca de ganho tático, os vértices intermediários (a “barriga”) que cederam 4–8 bps hoje poderiam seguir sensíveis a melhorias externas; uma forma didática de explorar é via duration moderada, consciente de que a ausência de catalisadores domésticos limita a queda contínua das taxas. Terceiro, para quem olha horizontes longos e tolera oscilações, a leve abertura relativa no spread 2029/2028 sugere que o prêmio estrutural segue ali; uma estratégia “barbell” pode fazer sentido: manter uma âncora em pós-fixados curtos para liquidez e, em parcela pequena e calibrada ao risco, posicionar duration longa para capturar potenciais ondas de compressão se o fiscal ganhar tração positiva. Se a incerteza local aumentar, reduzir a exposição à cauda e preservar caixa tende a ser mais prudente; se o vento externo continuar favorável e houver sinais domésticos construtivos, a convexidade dos longos pode trabalhar a favor.


Transparência pede reconhecer o contraponto: apesar do suporte dos Treasuries, o out/2029 não cedeu como os demais, lembrando que o prêmio de risco local ainda dita o ritmo na ponta final. Em outras palavras, o alívio existe, mas é condicional.


Este conteúdo tem caráter informativo e educacional. Decisões de investimento devem considerar seu perfil de risco e objetivos financeiros. Se você está começando ou se sente inseguro, é recomendável buscar orientação de um profissional qualificado.

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