12 de setembro de 2025

Juros Futuros: Curva de DI "Racha" Entre Medo Externo e Alívio Interno, Sinalizando Oportunidades Assimétricas em Renda Fixa

O pregão desta sexta-feira ilustrou como a curva de juros pode ser um verdadeiro campo de batalha entre fatores globais e domésticos, revelando nuances que vão muito além das manchetes e abrindo espaço para estratégias diferenciadas em renda fixa.

Hoje, os contratos futuros de DI encerraram o dia exibindo movimentos díspares e até contraditórios entre seus principais vértices. O DI para out/2025 recuou levemente (-0,02%), enquanto o DI out/2026 subiu (+0,03%), mas a partir de out/2027 as taxas voltaram a cair de forma mais significativa (-0,04% em 2027 e 2028, -0,15% em 2029). A direção oposta em cada ponta da curva não é trivial: o curto prazo sentiu o contágio do avanço dos yields americanos, enquanto o longo prazo celebrou a forte valorização do Real e a ancoragem das expectativas inflacionárias domésticas. Pode parecer, à primeira vista, uma curva esquizofrênica — mas, para quem observa detalhes, esse "racha" é um convite para leituras mais profundas e, quem sabe, oportunidades menos óbvias. Lembro de um gestor experiente que me dizia: "Curva de juros é como um rio turbulento — não basta saber nadar, é preciso ler a correnteza antes de pular."


O pano de fundo internacional foi dominante no trecho curto da curva. O aumento dos juros nos Treasuries americanos impôs pressão sobre os vértices de curto prazo no Brasil, pois, para seguir atraente ao investidor global, a curva brasileira teve que reprecificar parte do seu prêmio de risco. O fluxo de capital internacional, que costuma buscar diferenciais de retorno, ficou mais seletivo. Ao mesmo tempo, fatores internos trouxeram um sopro de otimismo — o Real se valorizou expressivamente, reduzindo a perspectiva de repasse cambial para os preços e, portanto, ancorando as expectativas de inflação futura. O mercado enxergou espaço para uma trajetória de queda de juros mais rápida a partir de 2027, mesmo diante do ruído político doméstico, que ficou em segundo plano frente ao alívio nas projeções inflacionárias.


Ao olhar tecnicamente para a inclinação da curva, o curto prazo apresentou leve steepening (+0,80 bps entre out/2025 e out/2026), sugerindo que a pressão externa conseguiu elevar as expectativas de juros no horizonte mais próximo, sem, porém, reverter totalmente a estrutura. Já no trecho intermediário, houve um discreto flattening (-1,00 bps entre out/2026 e out/2027), reforçando a leitura de que o mercado espera uma transição mais rápida para um ciclo de afrouxamento monetário, à medida que a inflação futura perde força. O longo prazo, por sua vez, mostrou um flattening mais expressivo (-1,50 bps entre out/2028 e out/2029), sinalizando que, mesmo com o risco fiscal ainda no radar, a percepção de prêmios de risco estruturais deu uma trégua, ao menos por hoje. O resultado é uma curva com o que gosto de chamar de "twist": a parte curta se inclina para cima, a barriga cede e a ponta longa volta a se achatar. Essa forma indica um mercado dividido entre a necessidade de proteger o curto prazo de choques externos e o desejo de capturar oportunidades em um longo prazo aparentemente mais benigno.


O movimento de hoje escancarou um dilema para o Banco Central. À medida que a ponta curta da curva absorve o choque externo, a autoridade monetária vê sua missão de ancorar expectativas se tornar mais complexa: segurar a barra do curto prazo sem estrangular o potencial de alívio adiante. O recuo dos vértices intermediários e longos sugere que, se o câmbio seguir favorável e a inflação projetada continuar cedendo, abre-se espaço para cortes de juros mais agressivos a partir de 2027. Contudo, caso o ambiente global permaneça hostil ou a política interna volte a azedar, a janela para um ciclo benigno pode se fechar rapidamente. O mercado, portanto, precifica um cenário de transição: o curto prazo exige cautela, mas o longo prazo começa a comprar a tese de um ciclo de queda de juros mais pronunciado, ainda que isso dependa de fatores que fogem ao controle doméstico.


Diante dessa curva com "twist", a abordagem de alocação que mais conversa com o cenário é a estratégia "barbell". O investidor informado pode ponderar sua exposição entre pós-fixados de curtíssimo prazo — que se beneficiam da remuneração elevada e protegem contra eventuais novas altas dos juros globais — e títulos prefixados ou atrelados à inflação de duration longa, que carregam a chance de ganho expressivo caso o cenário de desinflação e valorização cambial se consolide. Para os mais avessos a risco, manter a duration baixa e privilegiar liquidez (Tesouro Selic, CDBs curtos) faz sentido enquanto o curto prazo permanece volátil. Já quem enxerga valor no prêmio dos vértices longos pode encontrar oportunidades assimétricas, lembrando que a travessia exige estômago para volatilidade e paciência para o tempo da política monetária.


No fim das contas, o desencontro entre as pontas da curva é um lembrete de que, em mercados complexos, o prêmio não está em adivinhar o futuro — mas em ler, com humildade, as mensagens da curva e colocar cada peça no tabuleiro com consciência dos riscos e possibilidades. Como já ouvi certa vez: "O investidor que entende a curva não tenta domá-la — ele aprende a dançar conforme o ritmo." Afinal, navegar nesses rios exige mais que técnica; pede sensibilidade para distinguir correntezas profundas de simples marolas.

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