25 de setembro de 2025

Curva de Juros Futuros Sobe e Aumenta Prêmio de Risco: O Que o Steepening da DI Sinaliza para a Renda Fixa

Quando o longo da curva DI dispara diante do risco fiscal, todo investidor de renda fixa precisa repensar suas estratégias. Hoje, o steepening da curva revela uma precificação clara de incerteza — e oferece pistas valiosas sobre como navegar esse ambiente.

Os números do fechamento dos principais contratos DI hoje contam uma história de reversão e pressão. O pregão começou reagindo à leitura benignamente surpreendente do IPCA-15, com algum alívio momentâneo nos vértices curtos. Mas não durou: as taxas rapidamente inverteram e fecharam em forte alta, com destaque para os contratos intermediários e longos. O DI out/2026 saltou 0,35 ponto percentual, enquanto o out/2027 acelerou ainda mais (+0,74 p.p.), e o out/2029 avançou 0,60 p.p. O vértice mais curto (out/2025) ficou estável, enquanto o resto da curva elevou seu prêmio de risco. O que chama atenção é a inclinação: spreads entre os vencimentos aumentaram, especialmente no médio e longo prazo, e o spread entre os vértices mais longos (out/2029 vs. out/2028) subiu para 7,5 pontos-base, sinalizando um steepening notável. Para quem já viu outros momentos de estresse fiscal, esse tipo de reação é um velho conhecido — mas nunca deixa de surpreender pelo ritmo com que o mercado muda de humor.


Por trás deste movimento, o pano de fundo externo foi determinante: a alta dos Treasuries americanos elevou o custo de capital global, forçando os mercados emergentes a elevar seus prêmios para continuarem atraentes. Esse canal de transmissão é quase automático, mas nem sempre é suficiente para explicar toda a dinâmica. Internamente, apesar do alívio pontual com a inflação do IPCA-15 levemente abaixo das expectativas, dois fatores pesaram muito mais: o tom mais duro do Banco Central no Relatório de Política Monetária, agora projetando menor crescimento para 2025, e sobretudo o novo ruído fiscal vindo do Congresso, que aprovou despesas fora do arcabouço. O resultado foi um aumento expressivo na percepção de risco soberano, sobretudo nos trechos longos da curva, onde investidores exigem prêmio adicional para carregar papéis do governo. A soma desses vetores gerou não apenas um movimento direcional (alta da curva), mas também uma mudança qualitativa: a curva ficou mais inclinada, refletindo um desconforto crescente com o horizonte fiscal do Brasil.


Tecnicamente, a análise da inclinação revela nuances importantes. No curto prazo, o spread entre out/2026 e out/2025 diminuiu menos que ontem (de -61,4 para -56,4 bps), o que indica um leve steepening — ou seja, o prêmio para carregar DI de um ano para o outro aumentou, sugerindo que o mercado começa a ponderar a possibilidade de manutenção dos juros altos por mais tempo, mesmo sem mexer no vértice mais curto. No médio prazo, o salto do spread (out/2027 vs. out/2026) de -87,5 para -82,5 bps reforça essa precificação de risco adicional para além do ciclo imediato de política monetária, talvez indicando dúvidas sobre o ritmo de cortes à frente ou mesmo algum receio de que a convergência da inflação fique mais lenta. Já na ponta longa, a inclinação entre out/2029 e out/2028 aumentou para 7,5 bps, consolidando a mensagem de que o risco fiscal é hoje o protagonista. A curva, assim, assume uma forma inclinada (steep), típica de ambientes em que a política monetária segue restritiva, mas o prêmio de risco fiscal se impõe e domina as expectativas de longo prazo. O elemento não óbvio de hoje foi a inversão do humor entre a abertura e o fechamento: mesmo com inflação corrente sob controle, prevaleceu a aversão ao risco soberano, reforçando o peso dos fatores externos e fiscais frente às leituras pontuais de dados.

Esse steepening coloca em cena uma tensão explícita entre a condução da política monetária restritiva e o aumento do risco fiscal.


Enquanto o curto da curva exibe confiança na capacidade do Banco Central de ancorar expectativas no curto prazo, o alongamento do prêmio nos vértices longos revela que o mercado demanda compensação adicional diante das incertezas sobre a sustentabilidade da dívida — uma espécie de “divergência de confiança”, onde o BC é visto como diligente, mas insuficiente para neutralizar sozinho o efeito do ambiente fiscal. Assim, o mercado parece precificar que, mesmo com inflação corrente sob controle, o risco de deterioração fiscal pode adiar ou limitar cortes futuros na Selic. Se o cenário externo permanecer adverso, com Treasuries pressionados, e o ruído fiscal interno não for dissipado por uma sinalização clara de responsabilidade, a curva pode seguir inclinada e com prêmios elevados. Por outro lado, a simples menção de medidas concretas para recompor o arcabouço fiscal ou um alívio nos yields americanos poderia ajudar a fechar (ou ao menos estabilizar) a curva longa, trazendo de volta algum apetite por duration.


Diante desse quadro — e ancorando a abordagem de alocação na própria forma inclinada da curva — vejo que o steepening oferece tanto um alerta quanto uma oportunidade. Para muitos, a inclinação é um convite à cautela: manter a maior parte dos recursos em títulos pós-fixados de curto prazo (Tesouro Selic, CDBs DI), aproveitando o carrego elevado enquanto o cenário não clareia. Essa postura preserva liquidez e minimiza o risco de marcação a mercado em caso de novas aberturas na curva longa. Por outro lado, para quem tem horizonte mais longo e aceita volatilidade, o prêmio nos vértices longos dos prefixados (Tesouro Prefixado 2029, por exemplo) começa a oferecer uma assimetria interessante: se a percepção de risco fiscal estiver exagerada e vier algum alívio, o potencial de ganho de capital é relevante. Já títulos atrelados ao IPCA continuam sendo uma proteção válida, especialmente porque, em ambientes de risco fiscal, a inércia inflacionária pode surpreender. Em resumo: o steepening não é apenas um diagnóstico, mas um mapa de possibilidades — quem entende sua mensagem pode ora se proteger, ora se posicionar para oportunidades de assimetria, sempre com uma dose saudável de humildade diante da incerteza.


No fim das contas, a curva de juros do dia é como uma fotografia em longa exposição: registra não só o instante, mas toda a luz, sombra e movimento que escapam ao olhar apressado. O desafio está em enxergar além do óbvio e se perguntar: o que os prêmios de risco estão realmente nos contando sobre o futuro que (ainda) não conhecemos?

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