17 de setembro de 2025

Curva de Juros Futuros Se Achata com Otimismo Externo: Como Ler o Bull Flattening no DI para Estratégias de Renda Fixa

O fechamento de hoje nos contratos DI revela uma curva em transformação, guiada pela redução dos juros globais e um olhar atento à postura do BC. Descubra como essas dinâmicas redesenham o cenário da renda fixa e o que se pode extrair para decisões táticas.

O fechamento desta quarta-feira trouxe uma mensagem sutil, mas poderosa, para quem acompanha a curva de juros com atenção: as taxas dos principais contratos futuros de DI cederam de forma generalizada, com destaque para as quedas mais expressivas nos vencimentos longos. O DI out/2025 encerrou praticamente estável (14,902%, -0,01%), enquanto out/2026 caiu para 14,23% (-0,11%), out/2027 recuou para 13,34% (-0,04%), out/2028 foi a 13,075% (-0,08%) e out/2029 registrou 13,13% (-0,11%). O pano de fundo é um clássico bull flattening, com os vértices distantes respondendo de modo mais intenso ao ambiente lá fora — e aqui, vale dividir uma breve memória: lembro bem de um pregão semelhante, há alguns anos, em que o DI reagiu de forma antecipada à sinalização do Fed, e muitos se surpreenderam com o quanto o fluxo externo pesa — mesmo quando o real não confirma esse otimismo na mesma proporção. O detalhe técnico do dia é esse: a intensidade da queda nos DIs longos, ainda que o dólar siga resiliente, acende uma luz sobre a divergência entre o mercado de juros e o de câmbio.


O movimento foi claramente influenciado por fatores externos: a redução dos juros nos EUA jogou o “piso” dos juros globais para baixo. Isso, por si só, diminuiu o prêmio de risco exigido nos vértices mais longos da curva brasileira, abrindo espaço para um fechamento mais acentuado das taxas futuras — especialmente à medida que o ambiente internacional se mostra menos hostil ao risco. Em paralelo, no front doméstico, a firmeza da política monetária de curto prazo ancorada pelo Copom reforçou a confiança de que a inflação será combatida com rigor. A combinação desses vetores — um BC atento e o alívio externo — criou o cenário perfeito para o bull flattening observado: as taxas longas caem mais, refletindo a percepção de que haverá espaço, adiante, para cortes nos juros, sem que isso comprometa a credibilidade da política monetária.


Tecnicamente, a curva trouxe nuances que merecem ser destrinchadas. No trecho curto, o spread out/2026 vs. out/2025 recuou de -65,80bps para -67,20bps, sinalizando um leve achatamento (flattening). Esse movimento costuma indicar uma expectativa de manutenção — ou até de ligeira intensificação — do aperto monetário de curto prazo; o mercado parece dar crédito ao BC para seguir firme até que o ciclo de afrouxamento seja, de fato, seguro. No médio prazo, a inclinação (out/2027 vs. out/2026) subiu ligeiramente (+1,00bps), um detalhe que sugere que, embora o ciclo de queda dos juros seja antecipado, a intensidade e o timing ainda estão abertos a interpretações — talvez reflexo das dúvidas sobre a trajetória fiscal e a inflação mais adiante. Já o spread longo (out/2029 vs. out/2028) recuou de +6,00bps para +5,50bps, mostrando um achatamento também na ponta longa; quando isso acontece num contexto de fechamento de taxas, costuma refletir maior confiança no médio/longo prazo, mas ainda com um prêmio de risco embutido. O desenho final do dia é uma curva que se achata de forma construtiva, sem calombos dramáticos, mas com uma barriga levemente mais suave — e, aqui, o sinal não-óbvio se destaca: o otimismo do DI longo, ante a cautela do câmbio, sugere ou um excesso de otimismo nos juros ou, talvez, uma janela assimétrica de oportunidade.


A leitura da curva hoje, a meu ver, expôs uma tensão latente entre a condução restritiva da política monetária e as incertezas fiscais de fundo. Os vértices curtos ainda carregam o peso da credibilidade do BC, enquanto os longos responderam mais à onda de otimismo externo — mesmo que o câmbio não tenha embarcado na mesma toada. Isso indica que, se a percepção de melhora fiscal doméstica ganhar tração, os longos têm espaço para fechar ainda mais; mas, por outro lado, qualquer ruído local pode reacender a aversão. O mercado precificou, neste fechamento, uma probabilidade maior de flexibilização futura dos juros, ancorada pelo alívio global, mas ainda dependente da evolução dos riscos internos. Se o Copom reforçar o tom duro em seu comunicado, o trecho curto pode voltar a subir e achatar ainda mais a curva; porém, se o otimismo externo persistir e houver sinais de ajuste fiscal, as taxas longas podem continuar cedendo, beneficiando quem já está posicionado.


Diante desse pano de fundo, a forma da curva do dia — um bull flattening, onde as taxas longas caem mais que as curtas — sugere abordagens de alocação tática bastante específicas para a renda fixa. Para quem busca proteção e carrego, o trecho curto (Tesouro Selic ou pós-fixados de liquidez diária) segue interessante, pois permanece ancorado pelo alto nível da Selic e pela postura cautelosa do BC. Já para o investidor disposto a tolerar mais volatilidade e mirando ganhos de capital, os títulos prefixados longos (Tesouro Prefixado 2027 ou 2029), que se beneficiam do fechamento das taxas, podem ser uma aposta assimétrica: se a tese de convergência dos juros longos se confirmar, o potencial de valorização é expressivo. Por outro lado, para quem se preocupa com inflação, o movimento de hoje não eliminou o risco fiscal, e títulos atrelados ao IPCA nos vértices intermediários continuam sendo um colchão relevante. O mais importante, porém, é que a divergência entre o mercado de juros e o de câmbio sugere cautela: estratégias “barbell”, combinando liquidez nos pós-fixados curtos com exposição tática nos prefixados longos, podem capturar o melhor dos dois mundos — mantendo flexibilidade para navegar cenários ainda incertos.


Quando o mercado parece apontar para um caminho, mas outra classe de ativos hesita, costumo lembrar de uma velha máxima dos pit traders: “O preço nunca mente, mas ele também nunca conta a história inteira sozinho.” Hoje, a curva de juros fez sua parte, mas a resposta do câmbio deixou um ponto de interrogação no ar. Talvez, em dias assim, o melhor insight seja não buscar certezas, mas sim estruturar a carteira de modo que o inesperado, quando vier, seja menos surpresa e mais oportunidade.

Compartilhe:

Leia Também:

11 de novembro de 2025
O fechamento do dólar hoje revela um movimento de valorização expressivo do real, impulsionado por fatores locais e globais, e sugere que o investidor atento pode capturar ganhos assimétricos ao interpretar o desempenho relativo da moeda brasileira frente ao dólar global.
10 de novembro de 2025
O otimismo tomou conta do pregão, mas a diferença de ritmo entre Brasil e EUA revela nuances que podem redefinir sua estratégia de investimentos. Descubra como identificar o próximo movimento e onde buscar assimetrias em meio a um mercado que parece unânime, mas esconde sinais de descompasso.
6 de novembro de 2025
O movimento assimétrico da curva de DI escancara como a combinação de Selic imóvel e risco fiscal latente pode gerar oportunidades táticas para quem observa além do consenso. Descubra o que a nova inclinação revela sobre os caminhos possíveis da renda fixa.