1 de agosto de 2025

Curva de Juros Futuros acentua prêmio e sinaliza tensão fiscal, abrindo oportunidades em renda fixa indexada

A dinâmica dos juros futuros hoje escancara a preocupação fiscal de longo prazo e redefine o jogo para quem busca proteção e estratégia na renda fixa.

O pregão desta quarta-feira foi daqueles em que a curva de juros parece querer contar uma história — e não é uma narrativa de alívio. Os principais contratos futuros de DI fecharam o dia com alta consistente nos vértices intermediários e longos, enquanto o vértice mais curto ficou estável. O DI para dez/2025 encerrou praticamente zerado, a 14,925%, enquanto o out/2026 saltou para 14,50% (+0,55%), o out/2027 subiu para 13,655% (+0,37%), e os vértices mais longos, out/2028 e out/2029, avançaram para 13,42% (+0,30%) e 13,495% (+0,26%), respectivamente.

Os movimentos ganham ainda mais significado quando se observa a inclinação da curva: o spread entre dez/2025 e out/2026 fechou menos negativo, mostrando um leve “steepening” de curto prazo (+8bps), enquanto o spread entre out/2026 e out/2027 acentuou o flattening (-3bps) e o trecho longo, entre out/2028 e out/2029, praticamente não se moveu (-0,5bps).


Por trás desses números, a mensagem dos mercados foi clara e contundente: a preocupação fiscal doméstica voltou a ser protagonista. A decisão do Federal Reserve de manter os juros inalterados influenciou o humor global, mas o recado duro de Jerome Powell sobre a inflação corroeu parte do otimismo externo. Isso elevou as taxas dos Treasuries, especialmente no longo prazo, e contaminou o prêmio de risco exigido nos DIs brasileiros. Contudo, foi mesmo o cenário interno que ditou o tom. O déficit primário acima do esperado em junho acentuou a desconfiança sobre a trajetória da dívida pública, levando o investidor a exigir mais para financiar o governo nos prazos mais longos. Para completar, a leitura de que o Copom manterá a Selic em 15% por mais tempo reforçou a percepção de que o afrouxamento monetário pode demorar, pesando sobre os ativos e puxando as taxas futuras para cima. O mercado, em essência, cobrou caro pelo risco fiscal, e a curva respondeu com inclinação.


Olhando tecnicamente, o trecho curto da curva apresentou um movimento de steepening, com o spread entre dez/2025 e out/2026 reduzindo sua inclinação negativa, o que sugere que o mercado ajustou parte das expectativas sobre cortes de juros iminentes, mas manteve cautela em relação ao horizonte mais curto. Isso pode ser interpretado como uma sinalização de que, apesar do desejo de afrouxamento, o cenário não permite apostas ousadas no Copom por ora. No médio prazo, o flattening observado entre out/2026 e out/2027 indica um certo ceticismo quanto à velocidade de normalização dos juros, provavelmente refletindo a percepção de inflação resiliente e incerteza sobre a política econômica. Já o trecho longo, praticamente inalterado em sua inclinação, revela que o prêmio de risco estrutural está embutido nos vértices mais distantes, e que a incerteza fiscal já está fortemente precificada. No desenho geral, a curva segue inclinada, com acúmulo de prêmios a partir do médio e longo prazo — um retrato típico de um ambiente de aversão ao risco fiscal, mas sem pânico imediato.


A divergência de movimentos entre os curtos e longos hoje expõe o conflito latente entre uma política monetária restritiva — obrigada a manter os juros altos para domar a inflação — e a crescente apreensão quanto à sustentabilidade fiscal. O mercado, ao elevar os prêmios dos vértices longos mesmo diante de um BC vigilante, sinaliza que não basta a firmeza monetária para acalmar as preocupações: o risco fiscal passou a comandar a precificação dos ativos, e a curva de juros se torna um espelho dessa tensão.

Se a deterioração fiscal persistir, poderemos ver a inclinação da curva se acentuar ainda mais, pressionando os ativos de duration longa e tornando os cortes de juros cada vez mais condicionais à evolução das contas públicas. Por outro lado, qualquer sinalização crível de ajuste fiscal poderia gerar um alívio rápido nos prêmios e reverter parte do movimento.


Nesse contexto, o movimento de hoje reforça a atratividade relativa dos títulos indexados à inflação de longo prazo, como o Tesouro IPCA+. Quando o mercado exige mais prêmio para financiar o governo em prazos estendidos e a curva se inclina, esses papéis passam a embutir não só a proteção contra a inflação, mas também um prêmio de risco fiscal que pode ser capturado por quem consegue suportar maior volatilidade.

É uma faca de dois gumes: o potencial de ganho é maior, mas o risco de marcação a mercado também. Já os prefixados longos sofrem, pois as taxas atuais talvez não sejam suficientes para compensar a nova percepção de risco. Para quem busca abrigo, os pós-fixados ainda entregam carrego interessante, mas a janela para novas entradas pode se estreitar se a Selic permanecer alta por mais tempo, como o mercado agora precifica. Em dias como hoje, a preferência do investidor tende a migrar de crédito privado para títulos soberanos, ampliando a atratividade relativa do Tesouro Direto em todas as faixas de duration.


A forma inclinada da curva, acentuada por prêmios nos vértices intermediários e longos, sugere uma abordagem de alocação que privilegie a diversificação entre pós-fixados de curto prazo — para manter liquidez e aproveitar o carrego elevado enquanto o horizonte de cortes permanece incerto — e uma dose tática de títulos IPCA+ de longa duration, especialmente para quem mira proteção real e tem apetite para volatilidade.

O investidor mais conservador pode considerar reduzir a duration e observar de fora até que o cenário fiscal dê sinais mais claros de reversão. Para o investidor informado, o momento pede olhar atento à qualidade de crédito dos emissores, preferência por papéis soberanos e disposição para ajustar a carteira rapidamente diante de novos choques.


A leitura dos movimentos de curva, especialmente em dias em que o risco fiscal domina a cena, exige mais do que acompanhar os números: pede método, disciplina e uma lente estratégica para enxergar além do ruído. No [Capítulo 4: A Conversão do Catalisador de Crise] do meu livro, [A Mente do Investidor Visionário], aprofundo justamente esse ponto — como transformar os sinais de estresse do mercado em oportunidades concretas de reposicionamento, entendendo que cada choque contém em si a semente de um ciclo futuro.

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